11 de jan. de 2008

A DOR

FOTO: J.Machado - Band-Aid - 2008

Hoje, após longa noite bem dormida e regada a maravilhosos pesadelos, uma dor o acordou.
Dor sem rumo, sem medida e de qualquer lugar. Doía intensamente sem doer. Oprimia o peito, secava a garganta, queimava o corpo e contorciam-lhe ocas vísceras. Dor nunca descrita antes e jamais sentida. Dor de múltiplas causas.
Dor de ferida fechada, dor sem inflamação, dor branca, dor sem sangue.
Dor da dúvida, dor de raiva, dor de saudade, dor de desespero. Impaciente dor, irremediavelmente dolorida. Dor por não saber se respirava, dor por ansiar por um movimento ou um profundo suspiro.
A dor era tanta que o pobre não tinha forças pra gemer, mesmo um simples "ai" não cabia.
Abriu todas as janelas e respirou o ar do mundo. Inquieta dor inquietante.
Gritou por socorro, somente o silêncio o ouviu. Implorou atenção, os passos de uma formiga eram a multidão. Analgésicos e hipnóticos, o estoque era insuficiente. Chorou e pediu para morrer.
Pediu paz, pediu trégua, pediu um sorriso e só uma ligação. Sem precisar, pediu até perdão. Sentiu-se miserável. Exausto, o coitado dormiu com a dor.
Viu do alto uma criança fazendo um castelo de areia e sentada num banco, uma senhora velava sua inocência. Fitava-lhe com orgulhosos e marejados olhos.
A dor que não doía por fim se foi, fulminante alívio.
Sentiu a paz no silêncio, aqueceu-se no manto frio da solidão e dividiu igualmente toda a sua necessidade. Não viu mais nada, estava tranqüilo.
Apenas teve medo de que fosse tarde demais.

3 comentários:

  1. atire a primeira pedra quem nao sentiu essa dor.'e uma dor tao forte que parece que vamos dessa para melhor.uma dor sem ferimentos sem sinais de tortura ,enfim uma dor invisivel.mas e a pior dor do mundo.por isso eu digo atire a primeira pedra quem nao sentiu essa dor.um grande beijo Sol

    ResponderExcluir
  2. Não sei por que, mas sempre que leio seus textos eu ouço internamente uma música dos Los Hermanos, um dos meus nortes hoje para me situar nesse mundo.

    "Tire asse azedume do meu peito e com respeito trate minha dor / Se hoje sem você eu sofro tanto tens no meu pranto a certeza de um amor / Sei que um dia a rosa da amargura fenecerá em razão de um sorriso teu / Então clausura que um dia sufocou minha alegria há de ser o que morreu"

    Belo texto, como de hábito.
    Abração!

    ResponderExcluir
  3. DOR...
    E QUAL SERÁ A CURA DESSA DOR?
    SERÁ QUE A TAL DOR REALMENTE EXISTE, OU SERIA MAIS UMA FANTASIA DE NOSSA IMAGINAÇÃO?
    ADOREI, E ME VI REFLETIDA NESSE TEXTO.
    UM BEIJÃO!

    ResponderExcluir