17 de set. de 2008

DIAS DE DESLIGAR

Nesta manhã depois de noite mal dormida,
mais um dia nublado e um longo dia pela frente.
O telefone toca cedo, acordo de sobressalto.
O coração sai pela boca em convulsões incessantes.
...
Uma coca, um café e um folhado murcho e ensebado.
Penso em tanta coisa, ligar para um monte de gente,
dizer o indizível, colocar uma pedra sobre tudo.
Refazer a agenda, organizar os gastos.
...
Em casa, uma poeira fina inunda a madeira.
O piso manchado, a folha seca na planta da sala.
A cama desarrumada, a comida mofada na geladeira.
A correspondência acumulada.
...
O velho plano de seguir mar afora reaviva.
Incomoda, a ânsia pelo fim se renova.
Ainda faltam três noites em claro.
Um número que reduz a lentos passos.
...
Perco a luta para o sono, desanimo.
A britadeira no andar de cima e o pulsar da minha cabeça.
O travesseiro me agride...em vão.
Desisto. Tenho vontade de sumir.
Há dias em que a gente acorda com vontade de sumir.

2 de set. de 2008

PÉROLAS DE QUANDO EM VEZ

FOTO: Pérolas - Site Google


Acho que tudo começou naquele final de semana.
Você tinha acabado de chegar e eu fui seu anfitrião.
Eu disputava com todos a sua atenção e a sua melhor estima.
Dizia: "você gosta mais de mim, não gosta?"
Tempos depois, pra minha felicidade, você me confessou que sim.
...
No ofício, você passou a fazer parte da minha rotina.
O sorriso de sempre e sempre novo.
Mesmo sob pesadas tempestades, nada mudava.
Falando nisso, e como és intempestiva!
Eufórica e falante.
...
Chamava-te de gata. Gosto de dizer as verdades.
E como me divertia com suas "sábias palavras".
Aprendi a falar igual. Ou foi você que aprendeu a falar comigo?
As pérolas de quando em vez e as gargalhadas logo após.
O que dizíamos é impublicável.
...
E os personagens de nossas vidas.
Só nos dois sabemos.
Os almofadas, os animais, as pessoas com nomes de órgãos.
Também impublicável.
A melhor coisa que existe, depois de muitas, é maldizer a vida alheia.
...
Sentemos então para um café. Combinar a rotina mensal.
O pão de queijo de chumbo e o folhado gorduroso.
A coca-cola e o café de macho.
Ou então um almoço e uma defumagem gratuita.
Os desejos e as ansiedades. As explosões de verdades.
...
Numa tarde, durante o ócio, você me desafiou a estas palavras.
E ficaram prontas quando me mandou aquietar as pernas.
Não as aquietei. Apenas li seus pensamentos.
Minha promessa cumpre-se então. Leia.
Leia logo e vamos ali pra mais um café e um falatório da vida alheia.
Dívida paga com muito prazer "gata"!