28 de dez. de 2007

NÃO É PARA SER ASSIM

FOTO: J.Machado - Ponte Metálica / Fortaleza / CE - 2006

Não havia planejado nada disso, foi acontecendo. Bastou começar e como numa criação de coelhos, tudo foi aumentando a olhos vistos, apenas poucos e selecionados olhos. Cada cria é única e eterna, elaborada em curtas gestações. Vinte, dez e até cinco minutos.
Só não esperava que ficasse triste. A tristeza é só minha, plágio seu. O que faço é lhe contar o que sinto nas entrelinhas. E que culpa tenho se repito a mesma história cinza sempre? Os versos são eternos. A cor não.
Quero seu sorriso, sua voz marota e seus abraços fortes. Só quero suas lágrimas se forem de emoção ao me ler. Desculpas já pedidas na homenagem sua.
Imenso orgulho ao lhe ver crescer. Lembro dos nossos tempos de escola e de como você gargalhava das minhas aventuras tardias, das nossas brincadeiras do copo e das perguntas imaturas.
Não quero que se sinta só como aquele farol distante ou aquela ave solitária no céu de concreto. A frustração é só minha, o que me vale é o raro e fiel leitor, meu “best seller” ainda não vendeu, até agora.
Se necessário for, abro seus olhos para enxergar toda a beleza que lhe cerca, inclusive a das suas palavras minhas. Ajudo-lhe a abrir outros olhos cegos e a tirar os arranhões do vinil. Agora me endivido. Não é para ser assim. Não lhe vejo agora como antes.
Ligo cedo e insistentemente, pois me preocupo. Dói-me se em ti dói.
Acabo agora e espero que saiba que é para você. Enxergue a felicidade do que escrevo, a minha felicidade em conquistar, talvez, mais um leitor.
Espero que sua ficha caia aqui, é tudo seu.
Acabo agora, tenho que sair pra última e feliz noite insone.

26 de dez. de 2007

A LUA

FOTO: J.Machado - Lua entre as nuvens - 2007

Tomava o último chá do dia ao relento, a garganta incomodava um pouco e o corpo doía. Em meio a escuridão uma mancha apareceu, cinza em tons acobreados e brilhantes, estava no céu. Era a lua que insistia em se fazer limpa. Não sei se cheia ou se nova.
Uma seqüência interessante se apresentava a mim, a lua esboçava seus contornos enquanto pesadas nuvens a escondiam. Um vento frio balançava as pequenas palmeiras, nenhuma voz, nenhuma vivalma.
Lembrei-me da noite passada. Dormi mal, devo ter sido acordado umas três vezes. Ruídos incidentais, ruídos insistentes, notícias ruins e esperadas. E na madrugada mais um desejo de pêsames a um estranho. Não me esqueci de anotar no caderno.
E lá no céu ainda a lua em constante batalha com as nuvens. Tentei eternizar o momento, mas apenas figuras intermediárias e abstratas surgiam no visor.
Ouvi cães latindo, uma música que dizia "mesmo pra baixo, chamarei você". Ainda não ouvi este chamado.
Sorrisos e gemidos agora, nada além do ruído do vento e do portão da garagem sendo aberto. Mais lembranças surgem, agora de pessoas distantes, de quem eu gostaria que estivesse perto e de quem nunca esteve. Releio velhos recados como se fossem recentes. Na agenda, nenhuma possibilidade neste momento.
Lembrei das palavras que li e que me trouxeram uma agonia e uma vontade de consolar. Sabia que este sofrimento iria acabar um dia e da pior e única forma. Todo aquele esforço iria apenas aumentar em alguns dias a dor. Oculta fantasia.
Desejei passar uma borracha no tempo, corrigir os erros da história. Aprender mesmo com a leitura e não com experimentos pessoais. Desejei menos achismos, apenas críticas construtivas. Quem sente sou eu.
A lua agora triunfante lembrou-me do sorriso, do pudim de leite condensado, do mar e da luz. O que sinto é saudade, regozijo. Lembrança dos abraços gratuitos e espontâneos, da imagem de alguém parado na rua de braços abertos. O tempo passa rápido no futuro e lentamente no presente.
A lua sumiu, o vento ficou forte, e como minha avó diria "entra menino, vai gripar nessa friagem".
Tomei o chá frio de tanto olhar pra lua.

25 de dez. de 2007

TODOS OS DIAS

FOTO: J.Machado - Siga - 2007

Vamos viver em paz e lembrar do amigo.
É preciso cuidar da saúde e agradecer pela vida.
Reclamar menos e lutar pelo que vale a pena, ter fé.
Parar com os ensinamentos cretinos e vãs atitudes.
Cessar com as retrospectivas e as amnésias posteriores.
Tirar do fundo da gaveta a autocrítica e o bom senso.
Não é o fim de nada e nem o começo de algo.
Desde o início, o caminho é traçado ininterruptamente.
Não deseje felicidade e paz somente agora, faça-o sempre.
Pare de se esquecer do que disse depois dos fogos.
Seja sempre responsável por seus atos, bons ou maus.
Espere que eu não terminei, nada terminou...ainda.
Aprendemos tudo se a atenção não for seletiva.
Clichê, pieguice e demagogia, deixe tudo assim, não faz mal.
É o que agora quero dizer, ouça o que convém.
Chuva, sol, tristeza e felicidade, tudo combina.
Normal, fútil, certo ou errado, ainda há dúvida.
Saúdo com alegria os companheiros das belas palavras.
O que muda é o quarto algarismo, o céu ainda é azul.
Não é tarde, há só a semana mais longa de todas.
Renove-se, deixe o ruim e cultive o que é bom.
A contagem regressiva é pra melhorar e tenha um feliz todos os dias!

21 de dez. de 2007

NOSSO PRESENTE

FOTO: J.Machado - Aquele dia chuvoso - 2007

Tento descrever este dia em verso ou em prosa.
A prosa mais parecia ter alguns longos versos.
Virou um poema proseado madrugada adentro.
O dia começou chuvoso. Era verão e estava abafado.
Conheci uma senhora que trazia no colo uma criança.
Linda e inquieta, uma menina de cachinhos negros.
Fora rejeitada logo ao nascer pela progenitora.
E por sorte, fora criada até então por esta senhora.
A criança adoecera gravemente e convalescia.
Era mais uma consulta. Aparentava já boa saúde.
Mas ainda faltava algo importante a confirmar.
Tal senhora, que era a avó, aguardava sua netinha.
Falante, já havia conhecido todos os que lá estavam.
Terminado o exame, a avó fitava longamente o doutor.
Voraz e ansiosa por notícias da neta, clamava.
Enfim a tão esperada notícia, curada finalmente.
A senhora aliviada e em exultante agradecimento.
Correu de encontro a neta e, chorosa, a segurava.
Dizia "meu presente" e "Deus é bom demais pra mim".
Cena inesquecível, real e intensa. Marejo meus olhos.
Era impossível qualquer controle sobre as emoções.
E diante de toda aquela grandeza, o dia clareou.
Clareou só pra mim logo cedo, chovia ainda.
É também meu presente ter presenciado aquela cena.
Ganhei meu dia e tudo já valia a pena.
A avó e a neta descansam agora aliviadas.
É madrugada, e lá fora a chuva ainda cai...

14 de dez. de 2007

FOI POR ENGANO

FOTO: J.Machado - Horizonte - 2006

Por engano, você pensou que estava infeliz.
Na verdade as lágrimas eram de alegria.
O sorriso discreto e efêmero,
apenas revelava minha timidez.
...
Por engano, você pensou que sumi.
Na verdade me consumiam aos poucos.
Não queria nunca de você desaparecer,
apenas não me lembrei, naquele momento, de viver.
...
Por engano, você pensou que de ti me esqueci.
Na verdade nunca te apaguei de minha memória.
Nunca apaguei você de lugar algum.
Impossível, inadmissível e não quero.
...
Por engano, você pensou que fosse ingrato.
Na verdade você é meu maior presente.
O sol que um dia brilhou austero,
na desorientação daquele horizonte sombrio.
...
Por engano, você pensou que eram tristes meus versos.
Na verdade uns o são, outros não.
A tristeza inspira belos versos,
e eternizam sentimentos inconstantes.
...
Por engano, você pensou que eu não era o mesmo.
Na verdade não sou o mesmo.
Os dias me mudam a cada aurora.
Sou o mesmo em versões revistas e atualizadas.
...
Na verdade e nunca por engano.
Apenas e em versos alegres e certeiros,
sou o mesmo, mudado e em mudança,
o desaparecido que nunca deixou de te amar.

9 de dez. de 2007

O CEGO E A BRISA

FOTO: J.Machado - Janelas - 2007

Por intolerante ainda me tens. Tentei mudar e aceitar teus defeitos.
Por ti tentei pouco. Continuo o mesmo e me recuso a fazer diferente.
És feliz aqui? Por que ainda insistes? Mude seu caminho então.
Não enalteça o que em mim te entristece. Diga algo bom que ainda resta.
Ainda resta algo, mesmo que seja bom? E se te fiz mal?
Por esta janela não entra nada mais? Feche-a então.
Por aquela porta ainda posso passar? Tranque-a.
Mas onde estás então? Onde estás pra retirar o “se”.
O “se” da minha estória ainda inacabada e mal contada.
Onde estás pra fechar a porta e a janela, se isto realmente o desejar.
Imediatista e ansioso em demasia por ti que não chegas.
O que há de mal e desumano nisso? Querer-te é proibido?
Já passou e não me disse? Não te vi. Tão preocupado com meus defeitos.
Fiquei cego em mim a procurar por ti. E por que será tão difícil encontrar-te.
Já disse que fui cego, até quando permanecerei assim não saberei.
Disseram-me que tu me encontrarás. Onde, quando e como?
E se estiver cego quando me achares? E se não me olhares mesmo cego?
Quando estou só é que mais me encontro. E se cego e só?
E por que te procuro, e por que quero que me ache?
Quando estás por perto, tudo é mais difícil. A complicação será minha?
Não me compreendo. Talvez a brisa que passar por aquela janela me diga.
Aquela janela que temo fechar-se um dia. Porta por onde não posso passar.
Vou buscar alguém que eu nem sei quem sou. Procuro a mim e a ti.
Talvez a brisa me diga e o vento me leve até ao acaso de me encontrar.