14 de mai. de 2008

SOBRE O TEMPO

FOTO: Site Google
Tantos marcos, tantas datas. Pouco tempo.
Anos de vida, tempos de Balzac.
A cada década, um novo animal e um pouco de peso.
No fim, um zoológico de exemplos.
...
Traiçoeiro, enganou-me quando pedi que fosse rápido.
Percebi que havia passado sem nada mudar.
Agora é irritantemente lento pois lhe peço.
E se de você preciso, sempre me deixa na mão.
...
A vida é assim, surpreendente em suas regras.
No primeiro momento um olhar.
Em um mês e um dia se ganham os bombons.
E seguimos no aguardo das próximas fases.
...
Rituais, bilhetes antigos e cenas de dias felizes.
Fotos, roupas de bebê e o primeiro brinquedo.
Hoje são apenas paisagens e abstratos.
Gavetas cheias de contas e dias ainda felizes.
...
Ai, ai meu pai eterno!
É tanto, que de tanto as vezes me perco.
São minutos e contagens regressivas, prazos.
Horas a fio e os ponteiros seguem sem parar.
...
As rugas, meus parcos cabelos brancos.
Tempo carrasco e anjo, que arranca e cura.
Faz de mim, por apenas um minuto, seu senhor.
Não fuja, pois não quero mais suas marcas.

CENAS DE UMA VIDA REAL

CENA DO FILME: Band à Part (The Outsiders) - Jean-Luc Godard

Abaixo aos movimentos intelectualóides.
O homem ainda faz boas séries de televisão, há filmes de um amor simples e puro. Falam de flores de vez em quando. Os erros do passado são exemplos para um presente melhor. Meu cérebro precisa de descanso.
É bom rir da jocosa vida marital alheia, descobrir os bastidores de ambientes imaculados e chorar com os reencontros e as descobertas.
Assumir que a futilidade também engrandece.
Torcer pelo lado bom da força, divertir-se com as maldades inocentes de tipos bizarros, sofrer nos momentos de suspense e no final sentir um prazeroso alívio por saber que tudo não passou de pura ficção.
Ouvir uma música diferente e nova, agradar aos ouvidos. Ver e imaginar cenas, esquecer por meia ou uma hora, ou durante os intervalos, das agruras.
Quero ser prático. Quero sentir prazer mais vezes. Reservar um tempinho para emburrecer sem culpa. Iludir-me com a possível bonança depois da tempestade. Aquele casal perfeito continua perfeito e não acaba no final.
Gravar em minha memória e em breve repetir a cena dos três amigos correndo por entre as obras de arte de um famoso museu, sair sem pagar do restaurante mais caro da cidade e no final da noite tomar banho na fonte histórica.
Andar de bicicleta de braços abertos, dirigir um carro conversível vermelho em alta velocidade, encontrar os amigos na cafeteria com mesas na calçada, ter uma noite perfeita, torrar um milhão para ganhar outro.
Dar um beijo debaixo d’água, correr ao encontro de um abraço forte. Chorar a dor num colo amigo. Descobrir que o pouco, embora intenso, foi o suficiente pra se tornar inesquecível. Desistir da eternidade mil vezes somente para ter a sensação de um toque.
Fazer trilhas sonoras. Momentos musicados e duetos inesquecíveis.
Verei mais seriados, irei mais ao cinema.
Talvez seja preciso emburrecer um pouco e ficar adepto dos clichês.
Frases feitas e simples verdades.
Abaixo aos movimentos intelectualóides.