10 de jun. de 2009

NOSSOS PÉS FERRADOS

IMAGEM: Site da SBMCP


Tento ser poético com a dor.
A minha agora de tão forte, enriquece minha tragicomédia.
Desta vez, uma dor de verdade, aquela que dói mesmo.
Que faz chorar de dor sentida, não inventada.
Doeu demais...bem no auge e com platéia.
Meu tombo assistido e minha entorse aplaudida.
E como doeu...
Na hora pressenti que dessa vez seria diferente.
...
Pisar era uma proesa.
Em minha viagem solitária, vi meus ossos.
Aquele pontinho branco anunciou um veredicto.
Meus pés ferrados.
Repouso, gelo e uma bota...logo eu.
Maior que minha dor, foi a tristeza de ninguém tê-la visto.
Amuado, vão-se os pés e ficam as botas.
Agora é esperar.
...
No fim da noite, quando tudo parecia perdido.
Ela me aparece com uma surpresa.
Nossos pés estão ferrados, mas isso passa, ela disse.
E antes passar mal só, do que ter alguém pra piorar.
O coração desanuviou...foi meu alento.
Pensei nos pés descalços cronicamente doídos.
Olhei minha dor aguda e minha bota nova.
Nossos pés estão ferrados, mas são imensamente fortes.

27 de mai. de 2009

WORLD - New Order

O tempo é um vilão e o melhor professor do mundo.
A idade avança e eu ainda não sei se aprimoramos ou deturpamos algumas características ou se as adquirimos mesmo. Algumas destas, de tão genuínas, parecem realmente inatas.
Não me lembro, de criança, ser tão perfeccionista.
Tinha a mania de empilhar pedaços de madeira milimetricamente alinhados e imaginar uma grande cidade, com o transito fluente e um ar respirável. Talvez fosse um prenúncio disso mesmo.
Possuia algumas referências pessoais, a maioria sumiu ou morreu. O que temo hoje, é que me torne uma dessas referências pra alguém.
Sempre fui metódico, tipo aquele garoto com roupa combinanada e cabelo partido de lado. Hoje, somado a isso, sou estressado e um pouco neurótico, pra me poupar do completo.
A vantagem é que não combino mais a roupa, a não ser o cinto com o sapato.
Passei a ser mais sonhador, voar alto, e, felizmente cada dia menos frustrado, graças ao meu bom Deus!
Perdi amores e aprendi efêmeras diversões. Fiquei rancoroso e ganhei uma baita gastrite.
Tô em forma, pele boa, ainda com a barriga que me persegue desde que "quebrei meu nariz" com oito anos de idade. Dizem que foi o tanto de soro que tomei.
O coração só bate mais forte quando chego rápido nos dois mil metros ou quando insisto em nadar como os golfinhos, ou então, mais estranhamente, como as borboletas.
Passei a falar um monte de merda que chamo de filosofia existencialista. Insisto em querer que me leiam e teçam comentários sobre, mas, na verdade, se dependesse disso morreria seco.
Não sei se sou chato ou tenho halitose, meu coração e meu nariz dizem que não, mas o fato é que tenho ganhado muitos "perdidos". E sou até bonitinho viu!
Enfim, é o mundo, é a vida...e nessa ânsia de querer escrever mais alguma filosofia de balcão de botequim, perdi a hora, já passa da uma da manhã.

PS: depois de velho durmo tarde e tento acordar cedo...por obrigação, tenho mesmo, senão minhas crianças morrem de fome.

7 de mai. de 2009

A VIAGEM DE BALZAC

FOTO: Yellow Wayfarer Glasses Retro 80's

Depois de algum tempo, a vida passou a ser fácil. Vidas vazias, sorrisos fáceis e banquetes regados a vinhos caros e promessas remotas. Alegrias transitórias e fins de noite desertos. Noites em claro, textos longos e grotescos erros gramaticais.
Lembranças da infância, das inúmeras vidraças quebradas, de momentos de radicalismo e punições gratuitas, das guerras com semente de mamona, dos piques, do “Pogobol”, da TV Manchete e dos desconhecidos Abelhudos do rabanete radioativo.
Nunca teve o seu “aviator” ou “wayfarer”, mas legitima-se no seu velho Ray Ban de grau e armação preta. Da Conga pro Redley, com um deslize pequeno no M2000 de sola verde limão que teve seu fim numa festa brega. Agora com mocassin com sola de madeira.
Vence o que tem que vencer e assim é feliz. Conta o tempo nos relógios “troca-pulseiras”, conta o movimento, arrepende-se por perdoar. Sente-se tolo por ignorar o que de mal lhe é feito, reluta em mudar, mas não troca o jeans surrado e a camisa branca.
É obrigado a comemorar. Tanto tempo já e agora sim concretiza tudo o que lhe foi um dia prometido. Duras penas, grandes amigos e pequenos brotos sinalizando uma raiz. Foram-se os “long plays”, as festas dance e as matinês de domingo a tarde, ficaram os CD’s, os MP3, 4, 5 e lá vai.
Uma viagem pra longe, pra não sei onde, não mais no Fusca azul celeste 1300, aonde se disputava lugar com a mala. Pro paraíso ou pro mar, pro bazar ou para um bar. Não importa se só, mas num bom quarto escuro e gelado. Sem hora e desmedidamente. Feliz, vazio e efêmero, sem culpa e nenhum compromisso.
Com a burra cheia, uma carteira azul OP de nylon, mas com egoísmo a perder de vista e um cartão de crédito gold. Com uma unicidade de um só. Sem nenhuma importância, pelo menos por agora. Em paz pelo menos. Saudável e mais leve, até na mente.
E assim, segue só, em sua unicidade convicta, descrente na unicidade de dois. Livre e tranqüilo, em paz. Segue só, de malas menores e mais leves, em sua melhor e mais longa viagem.

19 de abr. de 2009

SEI LÁ O QUÊ

Tenho tanta vontade de escrever agora, mas não sei sobre o quê.
Tanta coisa se passa em minha cabeça, nada pára e nada tem solução.
Uma imensidão sem fim de desejos e sentimentos confusos. Coisas que sei que nunca voltarão, e outras que sei que jamais irão embora.
Penso em falar da luxúria, da libido que me contamina até meu fio de cabelo. Dizer palavras bem chulas, de baixa classe, com a única finalidade chocar e não de expressar o meu gosto pela lascívia.
Penso em sumir pra longe, recomeçar tudo de novo. Penso que não tenho coragem de deixar meu castelo pra trás, construído a duríssimas penas, pra alguns porcos chafurdarem sem nenhum escrúpulo.
Penso, mas hesito, em falar de minhas tristezas. São muitas sim, mas minha felicidade supera todas elas.
Já iniciei este texto pensando em escrever sobre uma menina de vida fútil, dona do mundo e sem mais o que fazer. Tive dificuldade na conclusão. Falar de uma vida vazia já é clichê. Achei meio besta e já dito.
Queria falar sobre uma comédia, mas meu sarcasmo, principalmente o de agora, impede-me.
Queria falar sobre o ser humano, mas todos que aqui freqüentam já conhecem o meu desdém por eles. O seu descompromisso, a sua capacidade de enganar e ainda conseguir dormir.
Outro assunto que talvez rendesse seria fazer um longo texto sobre almas gêmeas. Nem sei o que é isso. Algumas de minhas musas me disseram que as nossas almas gêmeas são nossos melhores amigos, e que os humanos ditos cônjuges, namorados, ou seja lá o que for, são meros acessórios destinados ao prazer sexual.
A vida é confusa, dita pela maioria que é bela. Concordo que é verdade. Penso que deveríamos ser poupados de certas coisas e que outras deveriam ser mais óbvias, dignas de maior entendimento.
Tenho muita vontade de falar sobre minha raiva, da minha vontade de esganar alguém, de falar aquelas verdades que guardo no peito.
Tenho impressão que já disse tudo isso.
Sério...estou meio cansado, entediado com tudo.
Descrente.
Sem nenhum assunto.

14 de abr. de 2009

BORN SLIPPY - Underworld

DEIXA QUIETO

Se estou distante, retraído, afim de mim mesmo.
Se afaste.
É assim, ninguém muda.
É errado ser certo. O que é correto deve ser refeito.
São grandes explosões com pequenas faíscas.
A vida é assim, um piscar de olhos.
O tempo urge, não volta pra rever erros.
Tenho dificuldade pra me cicatrizar.
Mesmo as mais pequenas feridas.
Desenraizado, no entanto radical demais.
Direto, reto...desfocado.
Calma nenhuma, soluções rápidas.
Quedas menores e maiores lucros então.
Então, se um dia me vires só.
E sentir uma tremenda vontade de ligar.
Deixa quieto o que não pode suportar.

17 de mar. de 2009

ODE AO ÚNICO

FOTO: Site Google - Felicidade Só

Ser só, eis a questão.
Só de gente, não a solidão do mais completo abandono, que é invariavelmente ruim.
Só de sozinho, só pra se divertir, viajar, conhecer lugares sem impor barreiras.
Só de auto suficiência afetiva. Só de independência amorosa e auto amor em excesso.
Só pra trabalhar sozinho, ganhar todos os méritos e gastar tudo consigo mesmo.
Só pra conhecer o bom da vida e esbaldar.
Só de sexo ou auto diversões eróticas. Só dos dois.
Só de solteiro, só de implicâncias e indiferenças, só de discussões afetivas e verborréia excessiva. Só de experimentação.
Só de amigos. Não dos velhos e bons, jamais. São minha conexão com o mundo. Fonte das conversas e talvez de uma remota esperança de um não envelhecimento só.
Só de um, com uma clara unicidade de dois. Um de dois eterno, dois em um até o fim.
Só comigo, eu e meu eu. Um só agora, talvez acorrentado em meu egoísmo sentimental a que já me condenaram antes de reescrever este texto.
Só de um na vida. Talvez único e enigmático, sem realmente nunca ter sido entendido. Duplicidade única, com um mundo nas mãos e um foda-se para o resto.
Só em convenientes períodos, mas com a unicidade garantida.
Enfim só ou não. Crápula e falsamente adorado, embora altamente útil.
Percebe a diferença? De que importa?
Agora após os 360 graus, faço planos de conhecer e conversar com meu eu perdido tanto dito e procurado, seja ele quem for e que está por aí só, longe de mim.

2 de fev. de 2009

SARCASMO ANIMAL

FOTO: WWF Species - Urso polar

Ultimamente tenho me sentido mal por algumas coisas.
Depois de ler esta primeira frase, alguns podem dizer que estou começando novamente as minhas lamúrias.
Mas não estou!
Pra começar, ontem matei um frango. Na verdade ele já estava morto, o que eu fiz foi temperá-lo com requintes de crueldade, assá-lo em altas temperaturas por longas horas e por fim triturá-lo com meus dentes. E como ficou bom!
Outro dia quase que mando um cachorro pro inferno. Só não o fiz porque sua pobre mãe, uma gazela oligofrênica, teve um surto psicótico e precisou de maiores cuidados.
Tempos atrás, achei que tinha matado todas as borboletas. Consolaram-me dizendo que apenas as tinha espantado com o tiro da minha espingarda. Ou teria sido uma bomba atômica?
Os peixes, no início eu os alimentava demais. Acho que foi por isso que ficaram enjoadinhos. Por fim, eu os afoguei quando descobri que eram bicudos e tinham olhos esbugalhados.
E minha cascavel, pobre coitada, se alimenta e se mata com seu próprio veneno.
...
Acho que isso já basta.
...
Temo que, de agora em diante, deva ser taxado de inimigo da natureza, e que volte a ser um urso polar. Só peço a Deus que, quando isso acontecer, eu tenha pelo menos escovado os dentes.