21 de dez. de 2007

NOSSO PRESENTE

FOTO: J.Machado - Aquele dia chuvoso - 2007

Tento descrever este dia em verso ou em prosa.
A prosa mais parecia ter alguns longos versos.
Virou um poema proseado madrugada adentro.
O dia começou chuvoso. Era verão e estava abafado.
Conheci uma senhora que trazia no colo uma criança.
Linda e inquieta, uma menina de cachinhos negros.
Fora rejeitada logo ao nascer pela progenitora.
E por sorte, fora criada até então por esta senhora.
A criança adoecera gravemente e convalescia.
Era mais uma consulta. Aparentava já boa saúde.
Mas ainda faltava algo importante a confirmar.
Tal senhora, que era a avó, aguardava sua netinha.
Falante, já havia conhecido todos os que lá estavam.
Terminado o exame, a avó fitava longamente o doutor.
Voraz e ansiosa por notícias da neta, clamava.
Enfim a tão esperada notícia, curada finalmente.
A senhora aliviada e em exultante agradecimento.
Correu de encontro a neta e, chorosa, a segurava.
Dizia "meu presente" e "Deus é bom demais pra mim".
Cena inesquecível, real e intensa. Marejo meus olhos.
Era impossível qualquer controle sobre as emoções.
E diante de toda aquela grandeza, o dia clareou.
Clareou só pra mim logo cedo, chovia ainda.
É também meu presente ter presenciado aquela cena.
Ganhei meu dia e tudo já valia a pena.
A avó e a neta descansam agora aliviadas.
É madrugada, e lá fora a chuva ainda cai...

Um comentário:

  1. Nossa... Acabei de escrever sobre a chuva e, quando chego aqui no seu blog, encontro esse post. Uma grata surpresa!

    Parabéns pela parábola!

    E aceito a palavra amiga.

    Abração!

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