12 de fev. de 2008

AINDA SONHO

FOTO J.Machado - Iluminação - 2008

Hoje pedi a Deus pra me iluminar, rezei forte, debulhei várias contas. Horas a fio a beira do leito, pensamentos distantes e teclas repetidas. Desejei britas quentes sob meus joelhos. Pedi dádivas pra outros, talvez pra que não ficasse tão óbvio o meu egoísmo.
Escrevi repentinamente.
Tinha pânico de novas feridas. Pedi pra dormir, pedi sonhos. Pedi um tempo fresco e água gelada. Pedi que o canto fúnebre cedesse seu lugar a uma melodia harmonicamente adocicada e de sabor prolongado.
Num dos mistérios desejei que momentos bons se eternizassem. Pedi gosto. Pedi só que o relógio parasse. Pedi que o ano novo se acabasse. Queria um rumo, uma raiz e um cão amigo. Nada de novas falsas impressões e doces inúteis melancolias.
Não podia mais me cansar. Cansei de por no papel os dias de sofrimento e aceitar imposições com sorrisos hipócritas. Tinha que esperar a escravidão acabar pra dar um fim a todos os momentos de brutalidade e incoerência. Arrependi-me de apontar o dedo e espalhar o veneno da minha raiva em gotas de saliva.
Pedi educação e ordem. Pedi que falasse mais baixo e que sentisse um mínimo de orgulho. Só queria novas boas impressões sobre velhos conceitos banais. Só desejei que todos soubessem aonde estão as lixeiras.
Sim, sim, pedi, desejei, sonhei.
Dormi e pedi, sim, para não sentir mais dor.

Um comentário:

  1. "O sofrimento é inevitável. A dor, opcional".

    Não sei se é exatamente assim que foi dito, mas guardo essas palavras com bastante carinho.

    Pelo menos, ao deitar a paz te visita, amigo. Pior seria se a noite atormentasse os sonhos e o repouso nosso de cada dia, como costuma ser nas bandas de cá.

    Fique bem.

    Abração,
    Daniel

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